sábado, 29 de setembro de 2012

Fugaz fulgor


 

 

 

Fiquei ali mergulhado na atenção que as cintilações de licra e de pele me despertaram sobre o espelho de água. Perseguia-a, naquela esteira de espuma, a sintonia perfeita do seu “crawl” , a touca azul, de onde despontavam breves madeixas do cabelo loiro.

Antevia que seriam verdes os seus olhos, escondidos por detrás dos óculos de natação e esperei que abandonasse a piscina, deusa esbelta escorrendo água.

Talvez se secasse à minha frente, podia devolver-lhe a toalha, que ela deixaria cair intencionalmente.

Até que oiço uma voz feminina um pouco ríspida, que me diz “Peço desculpa, mas esta é a minha mesa e o meu café!”

Eu quase me engasgo com o prosaico croissant misto, balbucio algumas palavras de justificação, atordoado com a visão que me atravessou o pequeno-almoço.

 

Lisboa, 29 de Setembro de 2012

Carlos Vieira

 

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