Tordos e melros
habitantes de sombra
ou da prata.
Naquele dia aprendi
o v de visco.
Aves tão tímidas
entre flores de oliveira,
tão rara e ausente
e tão de Outono.
Lembro-me da primeira fisga
e da sofisticação
dos elásticos franceses.
Reflexos de pássaro
nos olhares de azeitona,
tão madura
tão escura
tão pura.
Foi coisa de que nunca gostei.
Entretanto,
escorre um rio de luz
em silêncio
no lagar de azeite,
onde meu pai era Marte
entre máquinas,
para mim o seu regresso
de madrugada
provindo do Inferno,
era triunfal.
O silêncio do tordo
o chilrear do melro
com muito pouca acidez.
Tenho os pés molhados,
da humidade da chuva
dos anos sessenta.
Os aliados do vento
nas oliveiras
de desgrenhadas
cabeleiras.
No sopé das serras
fotos a preto e branco
de camponeses
que varejam
o mundo rural
e a lavoura.
Adormeço,
enquanto lá fora
nas intempéries
cinzentas da infância
esvoaçam
tordos e melros.
Tudo sonhos e lampejos
a preto e branco
ou mais correctamente,
a preto e a cinzento.
Não me lembro de outras cores,
de qualquer forma, agora não me dão jeito.
Lisboa, 24 de Setembro de 2012
Carlos Vieira
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