domingo, 11 de março de 2012

I - Memória de Árvores


Desde há instantes que fiquei quieto

no meio deste Inverno desconhecido

porque se ergueu dentro de mim

aquele pessegueiro

e no seu interior uma arvéola

que me saltava para o olhar

de um ninho de espanto

nesse silêncio de calda branca

que me cobria o tronco e o tempo

antes do frenesim

de pêssegos flamejantes

da memória da água

e do peso da terra

sobre o veludo da pele

já era tarde

sobre o rosa pálido

a arrefecer o corpo

onde escorria o sumo

de morder a fruta

e o pôr-do-sol


Lisboa, 9 de Março de 2012

Carlos Vieira





“Souvenir de Mauve”

Vincent Van Gogh


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