domingo, 27 de março de 2016

Ode à restauração das vidas frágeis


Observo
os detalhes
da louça chinesa
o vermelho velho
dos arbustos
e a melancolia
dos pássaros
vislumbro
o lodo verde
dos deltas
habitados
de peixes
curiosos
e o ténue
reflexo
de um tigre
à espreita
na selva
há também
um junco
à deriva
ficou intacto
sobre o azul
desmaiado
cintila
agora ancorado
na confluência
das linhas
da minha mão
que recolhe
do chão da sala
cada fragmento
em arestas vivas
tento recuperar
a cor e o risco
que diz a dor
e a fome
do artífice
e dar
nas coordenadas
da minha breve
alegria
a mesma inteireza
àquelas vidas
de frágil
porcelana.
Lisboa, 26 de Março de 2016
Carlos Vieira

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