sábado, 26 de março de 2016

Flechas de sol


Flechas de sol
trespassam
o céu cinzento
e as ranhuras
da persiana
ao coração
das palavras
já regressaram
os animais
noturnos e hábeis
caçadores
das madrugadas
nos teu lábios
permanece aceso
o seu rubor
e uma flor mínima
de sal
no delírio de búzio
do teu sexo
onde calaste
a sede
e o insaciável desejo
o meu olhar
vai em teu redor
proteger-te
das intempéries
e dos deuses
autorizo
que as flechas de sol
apenas te beijam
e a dourar teus seios
e que o calor
amorne um pouco
o teu gesto
sobrevoando
o lençol
sem sentido
desvanecendo
a sua irreversível
insensatez.
Lisboa, 5 de Março de 2016
Carlos Vieira


Sleep of the Beloved,” the photographer Paul Schneggenburger

Sem comentários:

Enviar um comentário