domingo, 15 de março de 2015

Sedimentos


Pólen
aspirado
sobre mais uma página virada
onde a semente
da violência
num único verso
amainou
a cor do pó
veneno ou remédio
empalideceu
vestígio
de pão
e um pouco húmido
de dor
escondida
de pouco mais
que nada
pequeno lapso
anónimo
que foi depois
tempestade
ruína
grão de areia
na engrenagem
semente
de onde vai irradiar
a raiz da solidão
o átomo
de estrela caída
partícula
de pele e de suor
em frição
que depois secou
no grande celeiro
do tempo irrepetível
foi o incêndio
e a cinza
de um grito
que se apagou
transformado
em miríade de matéria
em suspenso
na esperança
e se tornou
mínima porção
de terra prometida.
Lisboa, 14 de Março de 2015
Carlos Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário