Desenho de Kathe Kollwitz
de fugida
onde se pode
ainda distinguir
a profunda humidade
de uma alegria breve
no entanto
no seu cabelo
desgrenhado
os pássaros
que desertaram
da guerra
dão-lhe ideias
fazem ninho
coro
na sua dor
inconsolável
confusos
na demência
que lhe desenha
o decote mais generoso
com que sai à rua
e invoca o seu filho
fora de contexto
disseram-lhe a frio
no seu coração
cresce o gelo
de sabê-lo
desaparecido
em combate
na vala comum
dos corpos
por identificar
chora pelo seu leite
e pelo sangue dele
ingloriamente
ambos derramados.
Lisboa, 2 de Março de 2015
Carlos Vieira
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