A andorinha de azeviche
de um golpe fulminante
feriu de morte
a manhã
com a cimitarra
das suas asas
desembainhadas
ficou a borbolejar
a luz
silenciosa
esquartejada pelos muros
e pela caliça
no agonizar das casas térreas
onde se percebe
um rumor de artroses
e bicos de papagaio
a luz crua
devolve-nos
a tristeza da ausência
das crianças
no ar
há o mofo das arcas
a súbita andorinha negra
espalha a Primavera
pelos campos
das colheitas abandonadas
raros camponeses
atónitos
num gesto largo e generoso
ainda fazem voar
uma vaga de fé e de sementes.
Lisboa, 8 de Março de 2015
Carlos Vieira
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