segunda-feira, 30 de março de 2015

Pequeno apontamento para uma nuvem sem história


Nuvem
barco do nada
pensamento de algodão em rama
ancorada
na árvore do silêncio à sua beira
negando-lhe a comoção
e a profundidade
do azul límpido do céu
almofada
está ali ao de leve
e derradeira
nos seus cuidados paliativos
até ouvir serenar a respiração
e até ao sossego
dos domésticos utensílios
uma mão invisível pode empurrá-la
para longe
sem esforço
pode tornar-se numa gaiola de pássaros
coabitando
com estrelas indolores
ou pode desfazer-se em aguaceiros
e dar mais sentido
ao seu olhar húmido e nublado
e a água que corre
pelas rugas do seu rosto molhado
ser um delta agridoce de sentimentos
e ocasional alquimia
de gosto.
Lisboa, 30 de Março de 2015
Carlos Vieira


Fotografia de autor desconhecido

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