terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Esta vida são dois dias e o carnaval são três


Aqui estás neste exílio
na berma do teu país
observas inquieto 
a louca correria da turba,
palavra
que nunca tinhas utilizado
na vida
pois que seja bem vinda!
tu sempre quiseste
passar despercebido
e simultaneamente
viveste nesse constante esforço
de não te meteres na vida de ninguém.
“O Sr. aí, viu alguma coisa?”
Olhavas para trás,
como se as palavras se dirigissem
a outra pessoa
e acenavas negativamente com a cabeça,
indiferente
ao compromisso de cidadão responsável
que te era exigido.
Tinhas muito mais do que fazer
embora desempregado.
Aqui sobrevives
neste faz-de-conta
nesta faz e desfaz.
De qualquer forma
nada se lhe pode apontar,
o seu comportamento
é irrepreensível
tem a sua conta de medalhas e de louvores
imaculado o processo individual.
Hoje
ingressou no corso carnavalesco
por acaso,
ia a passar
envergando a sua máscara ancestral
é certo de esgar um pouco mais acentuado
devido ao ajustamento
mais tolhido
que lhe foi ficando do desemprego
de longa duração.
Neste altura do campeonato
não lhe dava jeito
nem a ele nem aos filhos
menores,
não podemos desistir.
Foi engolido no turbilhão
dos foliões,
tristezas
não pagam as dívidas
nem as suas nem a do país.
Lisboa, 17 de Fevereiro de 2015
Carlos Vieira

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