Bebo da memória, na margem dos seus lábios, que contornam o fogo, fogo, fogo e a água, água, água, a solidão das primeiras palavras que reconheço porque dizem o puro sabor dos elementos depois da navegação no seu sorriso emergente.
Dos teus caracóis louros em catarata evadiam-se peixes na sua ânsia de delatar segredos e construir o país dos sonhos dos mais subliminares materiais arquitectados em clareiras de fogo, fogo, fogo e grutas de água, água, água de onde espreitavam os teus olhos pérolas incrustadas pequenos animais indecisos.
Lembro-me que tinhas uma “t-shirt” amarela e umas jardineiras aos quadrados nesse tempo brincavas com o fogo com o mesmo à vontade com que hoje se brinca com a fome e no lusco-fusco de um fim de tarde bebes um copo de água e a noite vinha de mansinho comer-te à mão tu depois tiveste medo da tua própria sombra.
Nos teus olhos grandes de criança perpassavam constelações legendas que remetiam para animais mitológicos sinais de fogo, fogo, fogo e para o doce murmurar e insistência de água, água, água anunciando o rumor de outras galáxias.
Desviavas o imenso caudal da água e de dor e levavas o teu pequeno mundo à trela com tuas pequenas mãos e delas em concha nasciam os mares interiores e a correria imprudente dos rios intrépidos na tua diligência de menina acompanhava-os com o olhar fulgurante de fogo e de imprevistos e uma sôfrega sede de vida sem julgamento.
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