Mas, no fundo, já nada é muito importante. Já não amo. Já não me dá gozo foder. Já não como com prazer. Durmo mal, canso-me depressa. Não sei onde ia. Chateia-me falar. Tudo me aborrece. Nenhum consolo para esta solidão. Às vezes, penso que são manias minhas. Que me disponho para este estado de grande desolação, propositadamente. Depois, tenho muito medo de saber que detesto o mundo. E medo de não encontrar remédio para isto. Nem o sono, o esquecimento de si mesmo. Nem o repouso do corpo ao sol, nem o abandono de tudo... nem o deserto onde poderia inventar um novo corpo, uma insuspeita vontade de continuar a viver.
Al Berto, Diários
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