quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Cidade


A cidade

repousa anestesiada num berço de luz

em que ficamos simples, impávidos e nus

em que nos cingimos ao falsete da voz

que nega a cidade grávida dentro de nós.



A cidade

nos dias de sol, onde o nada acontece

embrulhada no cerco de voos de pardais

a casa ali está húmida naquilo que parece

em punhos que lhe rebentam pelos beirais.



A cidade

no rosto suado da mulher que sustive

num tempo de lhe moldar o suave declive

de lhe compor os cabelos em desalinho

de lhe escutar o canto e de servir o vinho.



A cidade

das palavras a secar nas pautas dos estendais

dos contrapontos de gatos em noites estivais

em aromas de alecrim e de hortelã sem razão

de morder a romã em 2m quadrados de solidão.



A cidade

das arquejantes velas em fatias de azul turquesa

a sobrevoar o olhar cruzado no império da tristeza

nos quarteirões os pombos desfiam antenas

cagam as estátuas enquanto arrulham poemas.



A cidade

de águas furtadas onde se enroscam tapetes persas

exótica exalas o oriente no caril impregnado das sedas

há pequenas encenações e adereços da glória  e da fome

cínica assistes ao acessório e efémero sucesso sem nome.



A cidade

de janelas da vida entrecortada das pessoas

histórias de quadradinhos, de persianas e de névoas

no deve e haver dos bancos, filas de gente em vigília

poupam de baraço ao pescoço nos sonhos da família.



A cidade

das coisas excessivamente óbvias e das rotinas do decoro

inocentes na pedra da praça, a fruta e o peixe que te devora

as melancias e as suas desmedida esperança de sementes 

que na suave fragrância das folhas de louro adormecera.



A cidade

da mulher das flores sempre com a mesma vida a medo

na mesma temperatura e delicada desmesura

na coroação do amor e no xaile negro amortalhada

com as rosas nas mãos e nos lábios o ocaso do segredo.



A cidade

onde se mastigam jornais de massa tenra ao pequeno-almoço

entre um galão e uma meia torrada, uma meia notícia

do correspondente de guerra que nunca terá sido fria

de alvoroço de ruas juncadas de crianças mornas quase vivas.



 A cidade

de jornais onde escorre o sangue e a tinta e o sangue

onde se faz mínima a justiça pelas próprias linhas

só nas margens das páginas se vive nos limites

em fuga às escabrosas entrelinhas das manchetes.



Minha cidade

porque caminho ínvio te meteste

não é bom augúrio o teu céu ébrio de gaivotas

percorro os teus jardins e praças e esplanadas

explica-me porque recusaste o que prometeste

porque acolhes mansamente o gesto dos déspotas

que esconderam traiçoeiros o gume  das espadas.



Minha cidade

luminosa, dos homens ávidos de palavras e de ideias

porque não voltas a desembainhar o lume das flores

e não és outra vez a primavera no adro das aldeias

numa explosão de abraços, de cores e de verdade.



Lisboa, 11 de Abril de 2012

Carlos Vieira


                                  “abstract-paintings-fields-head-town” em iiwallpapers




sábado, 7 de abril de 2012

o preço da sede


esta gota que em mim cai

é da torneira da infância

escorre e se solta a medo

nesta gota que se esvai

torna presente a distância

que faz diluir o segredo

onde gota a gota adormeço

partilham a mesma mágoa

a mesma tortura de água

da nossa sede com preço
 

Lisboa, 6 de Abril de 2012

Carlos Vieira


                                                      “A drop of water” full series - Deviant Art


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pensamento manso

o pensamento

é onde a erva

cresce

e o seu perfume

adormece

e desperta

o pequeno animal

um corpo

que se desfaz

de raiva surda

o pensamento

é o coelho

bravo

que foge da toca

que corre

e deflagra

um incêndio

no prado

do silêncio



Lisboa, 6 de Abril de 2012

Carlos Vieira



                                                      City sculpture “Rabbit” Art Rock America


Oh! quand je dors

                      Oh ! quand je dors...

Oh ! quand je dors, viens auprès de ma couche,
Comme à Pétrarque apparaissait Laura,
Et qu'en passant ton haleine me touche... -
Soudain ma bouche
S'entr'ouvrira !

Sur mon front morne où peut-être s'achève
Un songe noir qui trop longtemps dura,
Que ton regard comme un astre se lève... -
Soudain mon rêve
Rayonnera !

Puis sur ma lèvre où voltige une flamme,
Eclair d'amour que Dieu même épura,
Pose un baiser, et d'ange deviens femme... -
Soudain mon âme
S'éveillera !

terça-feira, 3 de abril de 2012

Das dificuldades de ser livre


Mais de vinte e quatro horas sem dormir

e tenho barcos e sonhos com as hélices presas

nos cabos do desespero

ao mesmo tempo que as cegonhas atravessam

a cidade oblíqua

e no bico transportam o musgo

de reconstruir a ternura

entretanto no labirinto dos canais e das marés

vai a liberdade ficando assoreada

e deixo-me ir na corrente

nessa resistência inútil das algas

irrompe em verde água e ironia

sobre a madrugada da ria

e o desperdício azul do sono

o progressivo declínio da esperança

as gaivotas  estremunhadas

voltam ao seu ofício de devorar os barcos

cada vez menos durmo

e nessa vigília

cada vez é mais difícil reconhecer as palavras

onde respiram os homens.



Lisboa, 3 de Abril de 2012

Carlos Vieira



                                              “São Jerónimo” de Leonardo da Vinci

sábado, 31 de março de 2012

The Way We Were - Tsuyoshi Yamamoto Trio

Ulf Wakenius - Believe, Beleft, Below

Democracia - Aristóteles

A Doce Vida - Federico Fellini

Handel - Farinelli - Lascia ch'io pianga (Derek Lee Ragin + Ewa Mallas Godlewska voice)

The Mysterious Models of John William Waterhouse - Part II

Dead can dance - enigma of the absolute

Levon Minassian & Armand Amar - Ar Intch Lav Er

Catarse


Catarse

do teu corpo côncavo

e o vagar

de vício absoluto

na tarde

do olhar  que antecede

o precipício

num vórtice

de proibido fruto

na sede

que te invoca

e desces depois

pela água turva do rio

que te cerca

numa vertigem de pétalas

num sortilégio de aves

que te curva

tu és agora

o animal ferido

antes de ser afoito

e astuto

de sucumbir num grito

e de partir a seta

sem dizer nada

oiço-a no restolho

do teu sexo

e numa prece de arbusto

oiço-a numa pressa

de serpente

de olho por olho

de me deixar ir

na corrente

na catarse  

do dente por dente

devagar tão devagar

surge no ápice da febre

que nos transcende

o beijo que percorre

a constelação

do teu corpo

incrédulo

até sentires

dentro de ti

crescente

o céu e o inferno

o fogo e a luz

num abraço

de estrela cadente

num frémito perfumado

de flor



Lisboa, 31 de Março de 2012

Carlos Vieira
















quinta-feira, 29 de março de 2012

Por terras de ninguém


Interrompam a cidade nesse murmúrio do interior dos prédios e a cor dos semáforos

não sabem  

que o meu pai traz de novo dentro de um cesto de verga o segredo dos pássaros



nas buzinas das almas apressadas soltam-se insultos insanos e alegrias passageiras

não sabem

que no perfume das memórias de infância perpassa a silente solidão de lágrimas ligeiras



os bancos de jardim navegam nesse mar de folhas e de papel e de gente, desgovernados

não sonham

o esplendor de sulcar a terra, prometer colheitas que escondem corpos nus e almas de arados



nas esquinas, escadas, nos passeios e esplanadas estão todos tão perto de nós e tão acossados

não sabem

que ao longe ardem frutos, peixes e flores, de árvores e ribeiras, de veredas e cidades saciados



debaixo dos candeeiros afogados no nevoeiro farrapos de gente enforcam-se nas cordas da luz

não sabem

dos séculos de frio das madrugadas, dos animais e homens abraçados no algodão de contraluz



percorrem-se ruas e ruas e bares e viagens e as precárias promessas de néon dos teus lábios

não sabem

sob a quieta claridade da pedra e o tranquilo caminhar das águas calam-me teus dedos sábios



pela sobranceria perpendicular das praças e misericórdia das fontes e sombras de jardins

não sonham

os segredos de fantasmas, o prazer paralelo da carne incendiada na palha dos sótãos e confins



sei de ti na parede que nos separa e nos olhar de lâmina de persiana que morre no alcatrão

não sonham

o canto e a luz intermitente dos grilos e dos pirilampos do teu corpo solar nas noites de Verão



não sabem, nem sonham

o número de estrelas que caíram do céu dos subúrbios

nem aquelas  que ficaram presas nos sonhos das árvores



não sabem nem sonham

as que andam por aí filhas de pais incógnitos

pobres e frágeis estrelas desterradas.



Lisboa, 28 de Março de 2012

Carlos Vieira


                                                “an immigrant” de  Dragan Secaric’s

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ossos do ofício

 Vértebra

 inesperada paisagem

 mínima

 encontro fortuito

 amostra

 fractura exposta

 de lava

 verdade porfiada

 golpe

 de crime violento

 cirúrgico

 osso desumano

 no gesto

 sinal de espanto

 raiz

 seca de carnes

 restos

 do cemitério do céu

 abandonados

 por um cão rafeiro

 a chave

 e um vestígio contaminado

 o parafuso

 de insólita solidão

 percurso

 ou despojo de bruxaria

 é dedo

 acusador ou pesadelo

 de vala comum

 antepassado perdido

 na indiferença

 último refúgio de poeta

 o arco

 do camponês dobrado

 salta

 menino maltratado

 no instante

 alegre da mulher jovem

 a fruta caída

 da nespereira que treme

 à sombra

 do peregrino que adormece

 única

 vértebra que resplandece

 vertical

 flauta que não se curva

 à melodia

 seta de osso que não esquece

 a fragrância

 a medalha que se agita

 no pescoço

 onde se elevam sufocados e aflitos

e ancestrais

os gritos lancinantes

por terra

os fragmentos de deuses

que conheci e acordaram

mortais.


Lisboa, 26 de Março de 2012

Carlos Vieira



                                               Imagem da Internet de uma “Vértebra”


sábado, 24 de março de 2012

Efémero

Ainda brilha a foice verde do teu olhar
na penumbra da cortina
da minha timidez

a tua voz corria entre os seixos devagar
inundava-me cristalina
a tua nudez

tuas mãos nas minhas mãos de par em par
erguiam na luz matutina
voos de avidez

lembro-me dos teus ombros e do luar
sob o lençol a carne vespertina
de se extinguir a palidez

oiço o rumor dos teus lábios ao despertar
o perfume da minha flor infinita
e a inevitável insensatez

insinuaste-te ou pareceu-me ouvir-te respirar
de súbito neste ínterim da escrita
ou ficaste quieta no talvez
como sempre

Lisboa, 24 de Março de 2012

Carlos Vieira


                                              “Girl Reading a lettter at an open window” Vermeer

quinta-feira, 22 de março de 2012

Histórias trágico-marítimas



I

esse barco

que lhe sai agora

pela boca fora

é outro insulto

um vómito

da mesma empresa

um novo negreiro

a mesma história sórdida

do mercado

do caminho das Índias

que lhe cresce nas entranhas

são outras receitas

do mesmo fado

as mesmas especiarias

e tecidos

reconheço-lhe

a genoa de barriga inchada

de nada

o mesmo tráfico

o mesmo escarro

tudo por fora  de um país

esse suado milagre

de um punhado

de homens íntegros

por vezes sábios

dos que não iam nas correntes

de tantos que tantas vezes

das fraquezas se fizeram

valentes



II

cassaram

o rumo de um povo inteiro

desfeito

de mala feita

no imenso cais

onde nenhum sonho cresce

onde ninguém

já vem dizer adeus

sem o proverbial

timoneiro

sem nenhuma amarra

este é o povo

de um país onde anoitece

é de novo

esta recorrente

aventura

que esmorece



III

já ninguém parte

todos se vão embora

gente

deste naufrágio

que nos colheu em terra

ressequida

já só temos o mar

neste apeadeiro de vida

e por aqui ficamos à deriva



IV

os mastros

de bandeiras rasgadas

as praias

onde definham

e enferrujam

as âncoras

das memórias e das ideias

são agora infames gestos

ou poleiros de gaivota

os mastros

acusadores



V

da gávea

avistam-se as ruas

onde escorre gente triste

cansada quebrada

gente seca

e ratos e cobras

capitães em fuga

gente que se esconde

que se agasta

que se arrasta

por detrás da lua

e dos becos



VI

nas ondas dóceis

uma dor dormente

que cresce

no convés do coração

os cabos cruzam o destino

onde pendurado

seca um corpo

de uma desconfiada tristeza

de corda esticada



VII

à proa

vais ao leme

do amor e da raiva

pura e dura

descobres por momentos

ventos

e pela sonda

senda do amor

a tua fome antiga de beijos

que tinham a forma de peixes

e na explicação dos baixios

e do mar profundo

desconheces de novo

que encontraste o teu mundo

sem encontrares a tua terra

tu és um caminho sem regresso

pois não pode voltar o povo

que sempre foi do mar



Lisboa, 22 de Março de 2012

Carlos Vieira

                                      Georges Seurat – “A Corner of the Harbor of Honfleur”

quarta-feira, 21 de março de 2012

A Poesia e a Prosa

“O momento da verdade é agora. E há-de ser a poesia, mais do que a prosa, a recebê-la. Se a prosa provém da confiança, a poesia dirige-se à ferida imediata”                                                                                                              

em "Nossos Rostos, Meu Amor, Fugazes como Fotografias" de John Berger

domingo, 18 de março de 2012

Hoje faz 112 anos da morte do poeta "só", António Nobre

"Georges! Anda ver meu Paíz de Marinheiros,o meu Paíz das naus, de esquadras e de frotas..."
Mas já não há naus, nem esquadras nem frotas, aos Marinheiros já lhes tiraram a dignidade e quase que também já não há Paíz.

Palavras que são répteis

Palavra


de pedra em pedra

lagarto

de sol a sol

o lagarto leva a palavra para o escuro

uma palavra medra na noite do muro

a palavra sol

expôs o lagarto à pedra

solta

agora a sua cauda amputada

salta

centelha sem corpo

o lagarto é uma palavra

que foge

sem cauda


Lisboa, 18 de Março de 2012
Carlos Vieira




                                          “Boy Bitten by a Green Lizard” por  Caravaggio

Arisa - Amami - Missiva d'amore

Andy Bey - Someone To Watch Over Me

Jon Eardley Quartet - Indian Spring

Miles Davis - I Fall In Love Too Easily

O Incidente da angústia

Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.
Fernando Pessoa

sábado, 17 de março de 2012

Tutt'Art@: Venice paintings | Monet, Renoir, Turner, Camille ...


                                 Joseph Mallord William Turner 1775-1851 - Tutt'Art@


Tutt'Art@: Venice paintings | Monet, Renoir, Turner, Camille ...: Venice is a city in northeast Italy which is renowned for the beauty of its setting, its architecture and its artworks. Venice has been k...

Longe da vista oiço-te o coração


Escuto

no vértice

do desejo

o mel

vórtice

de um beijo

espreito

na aresta

e nada vejo

apalpo

o teu perfil

de concha

efémero

refúgio

do sol

e de mar

na festa febril

do colo

da memória

oiço-te o coração

meu perímetro

de fogo

e de vento

pressinto

no grito

teu perfume

que exala

tropel de cavalos

despertando

no meu espírito

o hino

do teu corpo nu

suado

e inacessível

a pista

onde te sigo

a fugir de mim

se pudesse

pelo menos

o sossego

de calar tua voz

na solidão

deste poema

onde algures te perdi

e fiquei cego



Lisboa, 17 de Março de 2012

Carlos Vieira



“Lady Godiva”  de John Collier




quinta-feira, 15 de março de 2012

Ornella Vanoni Tristezza

Tindersticks & Isabella Rossellini ~ A Marriage Made in Heaven

Histórias pouco convincentes e nada abonatórias


Embrenhei-me
pelas ruas estreitas
e pelos becos esconsos
da cidade
e dei a volta aos largos
de braço dado
mergulhei no submundo
vulgo “bas-fonds”
e fiquei sempre à porta.
- Desculpe o senhor
não pode entrar!
É reservada a admissão.
Eu aqui fico, sem pertencer a lugar algum!

Absorto
apenas eu
e aquele miúdo
de garrote no crepúsculo
e manga subida num olhar de pássaro morto.

Aquela mulher de olho negro
de meias rotas
e braços cruzados
pode estar a rezar
no limiar daquela arcada
confundiu a silhueta de um cliente
com a lua cheia
estranha concorrente.

Todos a olhavam como culpada
não sabiam porém que estaria já a espiar a sua culpa
-Por minha culpa, minha máxima culpa!
Os que nunca erraram atiravam pedras de todos os
lados e os outros também.
Ah! Nós e os outros e eu sem saber de que lado estou!

Havia uns tantos, dos permanentemente bêbedos
anjos bêbedos
porque que tinham sido expulsos de casa
porque não tinha vinho em casa
porque estavam fartos daquele vinho de casa
porque lhe tinham escondido o vinho em casa
os que convivem mal com a liberdade
e tem mau vinho
e não tem asas.

Desamparados na queda
todos pareciam ter sido tocados
alguns via-se nitidamente que já estavam tocados
como se tivessem qualquer coisa de podre algures
mas eram os únicos a quem os néones
descreviam uma auréola
e tinham uma estrela
estavam marcados com uma estrela
de chumbo.

Havia os outros
e quem eram os outros?
sombras inóspitas
os agachadas do dia
animais de sargeta
que vivem na sombra das sobras
e do florescente comércio do lixo
e do lodo
os sobreviventes
os que vendem a alma ao diabo
os que não tem alma
os que disparam com um pau
e os paus mandados.

Havia e há os outros
os que fazem da fraqueza força
os que vendem a fraqueza
os que utilizam a força
os que desconhecem a sua força
os que se servem da força
dos outros
e os que a exploram
a força dos frágeis.

Fui pela noite da cidade
cúmplice da loucura
amigo da loucura
por fim louco
porque que quem anda muito tempo
com um coxo
mais tarde ou mais cedo
pode passar a coxear,
claro que não é agradável
para ninguém
estar louco e coxo.

Declaro-vos loucos
neste miserável mundo
única possibilidade de poder viver
e assim sendo a mais sensata
e declaro-vos curados
pois a vida não se compadece
com estar doente.

Lisboa, 14 de Março de 2012
Carlos Vieira