terça-feira, 1 de janeiro de 2013
No rasto do teu silêncio V
Os dedos
emergindo no lago
nesse lençol
de onde se evaporava
o odor nocturno da tua pele,
a última palavra suada
nos poros acesos,
o céu sussurrado
na viagem dos teus lábios,
ouve-se um cavalo a galope
a invadir a tua
ausência,
ninguém sabe se partiste
ou se pudeste calar
o opróbrio
deste mundo.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
Silence by donjuki
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
No rasto do teu silêncio IV
A sua memória
à espreita atrás da cortina
é uma folha que se desprendeu
no súbito jardim de um olhar,
uma faúlha que propaga o incêndio
à árvore onde se colhia
o fruto da distância,
o desespero de amar,
agora ficaram apenas
a tua sombra,
as tuas frias cinzas,
agora, se houver longe
nada te assinala.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
No rasto do teu silêncio III
Um murmúrio
subtil de cores,
a condensação do seu sorriso,
perante a silente órbita dos astros
a descreverem a sua nítida nudez,
uma história
um exemplo de
serenidade.
E se por acaso treme?
Se não ignora
um arrepio inocente
ou talvez, a breve volúpia
da estrela cadente?
E se uma lágrima
Trémula destruir
a vertigem do esquecimento?
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
Foto de Flickr “ Há momentos, em que o silêncio é a voz mais
poderosa!
No rasto do teu silêncio - II
Poderia ser
um peregrino
ao abrigo do silêncio,
na véspera da chuva
devorando pontes,
ajoelhar,
de ouvido no chão
escutando em toda a terra,
o bater do coração,
raízes de flores
e pássaros soltando-se das trevas.
Desconhecer,
se o que sente
é o seu canto, a sua pulsação
ou a sua humanidade.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
Foto de Flickr "Follow the voice of the forest"
domingo, 30 de dezembro de 2012
No rasto do teu silêncio
I
Caminha
em passo de fantasma
para não acordar
as sombras dependuradas
nos armários,
vais até ao fim,
incólume
à passagem do tempo
da dignidade.
Sem uma ruga,
nem uma lamento,
incansável.
Tão suave
na imortalidade de um momento,
não se sabe se respira,
se são os ventos ou prodígios
que o evocam,
se tem algo de selvagem
que morre
se lhe tocam .
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
Autor desconhecido
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Epidural
errando pelo meu meio-dia
em pelo
animal
humano nos bolsos no silêncio e no vazio
dos princípios
vagabundo
de miragens e ideias rarefeitas e mais não digo
dada a dormência do frio
foge-se ao confronto
às nódoas negras e ficamos na anestesia local
do desemprego
marginal
que adia a sua entrega e aguarda o seu imposto
na fila do medo
escolhe a contragosto
o recanto mais escuro e a barba por fazer
e as lâminas da brisa
o calor do jornal
a tinta que difunde o embrenhado perfume
emaranhados nas entrelinhas da crise
não pensar
desfrutar a paisagem estreita e acolchoada
que passa ao lado do espaço e do tempo
Lisboa, 27 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
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