segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Poema de ausência


Deito-me
a adivinhar-te
durante a noite
sonho-te acordado
e lembro-me de beber
um copo de água
na tua ausência
nas horas
em que o incêndio
do teu rosto
a olhar-me se propaga
e te encontro
após os sulcos
na bruma e no sono
e a pulso
propus-me içar-te
para a esta madrugada
em que estremunhado
fui demiurgo
das palavras mágicas
enquanto tu de pés descalços
sonâmbula
pisavas as cinzas
que sobraram da tristeza
e agora
apenas o devaneio
me permite
carregar-te no céu
de todos os dias
tu encerraste-te em ti própria
num sono pesado
como se só para mim
tivesses morta
e eu tivesse o poder
do beijo
que te ressuscitasse.
Lisboa, 26 de Janeiro de 2015
Carlos Vieira

“O Beijo” de Theodore Gericault

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