terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Em xeque



No xadrez
de luzes
do prédio em frente
o que mais me atrai
é o mistério das casa pretas
gosto das estratégias demoradas
de tempêros na cozinha
temo pelas auréolas
tremeluzentes
dos plasmas
pelo embrutecimento
antecipam a paisagem
da morte retangular
quase toda a gente
faz amor
às escuras
às apalpadelas
as crianças brincam
em módulo wireless
os adolescentes zombies
dormem de dia
e desconhece-se
o que fazem à noite
temo que seja magia negra
ali sobre o lado de direito
a casa sempre iluminada
vive uma mãe solteira
ou talvez casada com emigrante
é uma peça que vive na angústia
de viver neste jogo da vida
sem qualquer truque
sempre ameaçada
personagem desgraçada
depois existem três gatos
cinzentos
todos iguais
com os mesmos hábitos
de marqueses
de marquises
o sol nasce para eles
de sete vidas
vivem desafogados
não pedem nada
finalmente um pássaro
de voo exíguo
todo o dia de baloiço
em baloiço
até ao limite do absurdo
no xadrez do prédio em frente
vão-se apagando luzes
ninguém sabe
objectivamente
o que está em jogo
e quem está em xeque.

Lisboa, 11 de Janeiro de 2015
Carlos Vieira



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