sábado, 17 de janeiro de 2015

A caixa de fósforos



Uma pequena caixa de fósforos
repousa no parapeito da chaminé
quantas cabeças vermelhas 
ali estão adormecidas
e podem sonhar o fogo.

Quantas vezes 
foram tuas mãos abrir
a pequena caixa
e teus dedos 
avançaram
para o desespero da lixa.

Quantas vezes
se iluminou subitamente o teu rosto
redobrou de brilho o teu olhar
e estremeceram os lóbulos do teu nariz
ao inspirarem aquele efémero
cheiro a enxofre
e se espalharam as faúlhas
e se queimou a tua blusa de seda.

Naquela caixa de fósforos
nas tuas mãos
batia o meu coração
e a tua delicada
astúcia
fazia rugir de novo 
no meu peito
um vulcão.

Naquele pequeno 
pedaço de madeira
o gesto súbito 
da tua contenção
logo após a ignição 
de um pequeno fogo
que lavra pelo meu corpo
e que apenas a brisa breve 
do teu sopro podia apagar.

Tinha falhado a electricidade.


Lisboa, 16 de Janeiro de 2015

Carlos Vieira


Sem comentários:

Enviar um comentário