Uma pequena caixa de fósforos
repousa no parapeito da chaminé
quantas cabeças vermelhas
ali estão adormecidas
e podem sonhar o fogo.
Quantas vezes
foram tuas mãos abrir
a pequena caixa
e teus dedos
avançaram
para o desespero da lixa.
Quantas vezes
se iluminou subitamente o teu rosto
redobrou de brilho o teu olhar
e estremeceram os lóbulos do teu nariz
ao inspirarem aquele efémero
cheiro a enxofre
e se espalharam as faúlhas
e se queimou a tua blusa de seda.
Naquela caixa de fósforos
nas tuas mãos
batia o meu coração
e a tua delicada
astúcia
fazia rugir de novo
no meu peito
um vulcão.
Naquele pequeno
pedaço de madeira
o gesto súbito
da tua contenção
logo após a ignição
de um pequeno fogo
que lavra pelo meu corpo
e que apenas a brisa breve
do teu sopro podia apagar.
Tinha falhado a electricidade.
Lisboa, 16 de Janeiro de 2015
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