terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Retrato do homem bom




Grita nele
um secreto impulso
o esboço de raiva
da raiz  que habita
submersa 
sob a pele
na véspera
da explosão
dos átomos
no seu rumo
à maior solidão
fere-se
nos estilhaços
do tempo
no gume
da mácula
regressa
ao esquisso
precário
entre o princípio 
do mundo
e o sono
dos justos
dentro de si
o vulcão
cauterizou
com seus lábios
ardentes
as chagas vivas
da sua vida 
agora indeléveis
e desperta
todas as dores 
dos homens 
que lhe revolvem
as entranhas.


Cresceu
nesse interlúdio
num berço
de rudimentos
de ternura 
e rendimento
mínimo
e tecido escasso
de gestos contidos
na dúvida
e na alegria breve
da benevolência
que no seu rosto
enrugado
ainda aflora
e depois esquece
perante a insistência
do silêncio
ao fundo do túnel
a luz bruxuleante
de um futuro
que esmorece
enquanto
a dor vincada
no seu peito
do sonho
onde cabem
todos os homens
desmesurado
cresce.


Lisboa, 17 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira



                                             Solitary Man, de Linda Burgess

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