I
Périplo de erro
partícula fosforescente da tentativa
frágil fragmento
que desce sobre o flanco
da dúvida
um argumento para marionetas
a ousar a fraga
de se furtar ao passo em falso
e num golpe de asa fruir a corrente
ser o pássaro hábil
e o intérprete da flecha
também esse êxtase ascendente
de ser fulminante.
II
Colher na viagem as flores de fogo
em propósitos de papoilas
e fósforos
exultando essa frágil alegria
das tentações
que nos consomem
a precariedade
e a memória das planícies
onde se pernoitou
em silêncio.
III
Perplexos pela paisagem
exuberante
de polpa e do sumo
que se vislumbra na fratura
da peça de fruta
que depois se devora
enquanto
se desconhece o incêndio
e a festa
que alastra nos lábios molhados
na orla de um desejo
na periferia de um tempo
onde dorme uma donzela
mansamente
em lençóis de flanela
e das suas pálpebras
florescem manhãs de orvalho.
IV
Por detrás das persianas
a pantomina de uma estranha solidão
de peripécias e percalços
a orquestra de ruídos domésticos
tão comuns à pauta frugal dos párias
na sua porcelana hostil
das palavras
onde uma febre de orquídeas perpassa
e se não me engano
um pasmo de pérolas habita
vizinha triste
envergonhada da vida
que desiste da luz
na órbita da tentativa.
Lisboa, 20 de Julho de 2013
Carlos Vieira
“Shadow people” de autor desconhecido