Os rastos das sandálias
dirigiam-se para o bosque
por aquele caminho de terra batida
ao meio-dia
os insectos zumbiam debaixo das cerejeiras
podia vislumbrar-se ainda
o samurai
a sua atitude firme e o tronco erecto
a rasgar-lhe a carne
apenas a sombra do sabre
como se fosse um pássaro
nem uma palavra
não pestanejou
o perfume das ervas
era irrelevante
depois
a doçura do sangue
que lhe escorria
no canto dos lábios
a inutilidade e a ignorância da honra
para aqueles que por cá
vão ficando
os restos de um corpo
devorado por animais nocturnos
dirá o relatório de autópsia
sem qualquer margem
para dúvidas
um funeral discreto
digo deserto
suportado pelo erário público.
Lisboa, 1 de Junho de 2013
Carlos Vieira
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