vou regressar à pura infância
a esse mágico tamborilar da chuva
uma voz na superfície nocturna dos lagos e do mundo
poderei voltar a ser a alegria íngreme dos ninhos
e de escorregar
na nudez dos troncos
arrancar cenouras
essa ternura de dedos enterrados na terra fértil
que saboreio na doçura de um olhar
um êxtase de musgo e ouro e prata no rendilhado
das árvores
metástases contidas no céu azul cobalto
sou apenas um único fruto no pomar
depois serei um peregrino num caminho
de terra batida
vejo as couves
como grandes mãos verdes
e por elas posso beber a mais pura água fresca
pendurados nos ramos
vejo os pássaros transidos de asas molhadas
uns do frio e outros do desespero
Lisboa, 22 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira