quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

No rasto do teu silêncio VI

 
O teu rosto é um astro
que adormece no meu colo,
as minhas mãos
nuvens pousadas no poema
bússola de luz
que te olha de frente,
não ouço nada, nem ninguém,
só no silêncio te reconheço
e só desse quase nada
posso sobreviver,
as minhas mãos
são eternamente asas
do desejo de te reencontrar
e na fluorescência
desta poeira cósmica
irei decifrar
as nossas primeiras palavras
de volta à órbita
do nosso amor extravagante.

Lisboa, 30 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira
                                                “Astral Travelling” by Petrovsky+Ramone

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O amor ao pequeno-almoço


Carlos Vieira

No rasto do teu silêncio V

 

Os dedos

emergindo no lago

nesse lençol

de onde se evaporava

o odor nocturno da tua pele,

a última palavra suada

nos poros acesos,

o céu sussurrado

na viagem dos teus lábios,

ouve-se um cavalo a galope

a invadir  a tua ausência,

ninguém sabe se partiste

ou se pudeste calar

o opróbrio

deste mundo.

 
Lisboa, 30 de Dezembro de 2012

Carlos Vieira
 
                                                Silence by donjuki

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

No rasto do teu silêncio IV


A sua memória

à espreita atrás da cortina

é uma folha que se desprendeu

no súbito jardim de um olhar,

uma faúlha que propaga o incêndio

à árvore onde se colhia

o fruto da distância,

o desespero de amar,

agora ficaram apenas

a tua sombra,

as tuas frias cinzas,

agora, se houver longe

nada te assinala.

 

Lisboa, 30 de Dezembro de 2012

Carlos Vieira

                     “Le Silence de ta Voix Résonne Résonne Résonne” by Nadege Druzkowski

 

 

No rasto do teu silêncio III


 

 

Um murmúrio

subtil de cores,

a condensação do seu sorriso,

perante a silente órbita dos astros

a descreverem a sua nítida nudez,

uma história

um exemplo de serenidade.

E se por acaso treme?

Se não ignora

um arrepio inocente

ou talvez, a breve volúpia

da estrela cadente?

E se uma lágrima

Trémula destruir

a vertigem do esquecimento?

 

Lisboa, 30 de Dezembro de 2012

Carlos Vieira

                     Foto de Flickr “ Há momentos, em que o silêncio é a voz mais poderosa!

No rasto do teu silêncio - II


 

Poderia ser

um peregrino

ao abrigo do silêncio,

na véspera da chuva

devorando pontes,

ajoelhar,

de ouvido no chão

escutando em toda a terra,

o bater do coração,

raízes de flores

e pássaros soltando-se das trevas.

Desconhecer,

se o que sente

é o seu canto, a sua pulsação

ou a sua humanidade.

 

Lisboa, 30 de Dezembro de 2012

Carlos Vieira

                                             Foto de Flickr "Follow the voice of the forest"

domingo, 30 de dezembro de 2012

No rasto do teu silêncio


 

I

 

Caminha

em passo de fantasma

para não acordar

as sombras dependuradas

nos armários,

vais até ao fim,

incólume

à passagem do tempo

da dignidade.

Sem uma ruga,

nem uma lamento,

incansável.

Tão suave

na imortalidade de um momento,

não se sabe se respira,

se são os ventos ou prodígios

que o evocam,

se tem algo de selvagem

que morre

se lhe tocam .

 

Lisboa, 30 de Dezembro de 2012

Carlos Vieira
Autor desconhecido