domingo, 1 de novembro de 2015

Poema do amor impossível


ía jurar
que a conheço
de a ver um dia
em sonhos
abraçada
aquilo que eu fui
foste o sol
podias ser o meu sol
que vinha comigo
de braço dado
do liceu
agora passo
por ti
e vejo ainda
o balouçar
daquela saia de pregas
acenas
naturalmente
como as árvores
e as flores
de todos os jardins
onde passamos
olhas-me
não me reconheces
e corres pela relva
com teu sorriso
límpido
eu já não vou
atrás de ti
volto aquele espelho
de um amor
platónico
no fundo
eu é que tive sempre
ausente
parto depois
de te rever
imagino-te
reinvento-te
ao vento
confesso-lhe
o que não lhe disse
e danço a solo
sem saber
o que te move
o que te comove
não sabia
do teu rumo
ía jurar
que cheguei
a saber quem eras
e nunca fui muito forte
em matemática
nesse tempo
em que não sabia amar
ou talvez nunca
soubesse
e tu fosses aquilo
que nunca procurei
ou talvez
não te pudesse
reconhecer
noutro lugar
noutro tempo.
Lisboa, 1980
Carlos Vieira

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