sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Pensamento à volta das muralhas de Ávila



“Terra de cantos e de santos"

olho
as grandes muralhas
de Ávila
destemidos
eram os soldados
que as acometiam
sem as asas
da minha imaginação
e ignorância

à volta
da cidade fortificada
adormecidas
estão as enormes rochas
as pequenas gralhas
acordam nos homens
sonhos e pesadelos
de gigantes

o frio de Novembro
regela os sentinelas
nas torres
por momentos
pareceu ouvir-se
o assobiar das setas
nós permanecemos
bestas anestesiadas
por sádicos Cupidos
e por cantos de sereia

mais dia menos dia
esperam-se
os bárbaros
os Invernos rigorosos
e a fome
tornou-se insuportável
viver sem wi-fi
sem rede
pouso o pensamento
em Adolfo Suaréz
filho da terra
que me observa
imperturbável

entre ameias
olhares emboscados
o mínimo ruído
identifica-se a ameaça
que se afoga nos bares
a sofreguidão dos cegos
a turba na sua pressa
de shots
ou de preces
após o eco dos sinos
os devotos esgueiram-se
fervorosos
para a missa nocturna
na capela
de St.ª Teresa de Jesus

chegou a noite
arrastada
sento-me no interior
da fumegante bodega
peço jamon serrano
uma canha
estou a salvo dos assaltos
dos bárbaros
e das lâminas do vento
das casas dos segredos
e das novelas
e do grande cerco
digo circo mediático.

Ávila, 4 de Novembro de 2015
Carlos Vieira


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