III
Há três anos, foi à pesca com um amigo de férias em S. Jorge, no seu pequeno barco, ao largo da Calheta, ele pescou uns vinte e tal peixes, diversas espécies e tamanhos. Tentou desesperado, industriar-me na arte e nas artes da pesca, a elegância e perícia na colocação do isco, a subtileza e decisão no içar da linha e da velocidade do carreto. Um esforço no sentido de me ganhar para aquela atividade, da qual retirava mais do que momentos de sossego, recolhimento e reflexão, enormes vantagens culinárias, filosofia que eu subscrevia com uma prática canhestra.
No final pesquei apenas meia garoupa, pois um outro predador marinho, antes da mesma chegar às minhas mãos, ficou com a parte melhor do meu suado pecúlio.
Naquele dia, porém o pior e melhor da pescaria foi um cerco de golfinhos à volta da embarcação, por momentos ficamos maravilhados com a atenção dispensada, por animais tão encantadores, no entanto face ao assédio, começamos a sentir-nos um pouco peixe fora de água e que talvez o singular interesse dos “amigos" anfíbios, não seria somente, algum espetáculo coreográfico que teriam preparado para nós. O meu amigo puxou a corda do motor fora de borda, pusemos o rabo entre as pernas e despedido-nos dos “simpáticos” animais.
Lisboa, 1 de Novembro de 2015
Carlos Vieira