Ruminações de “la vache” que já agora sorri
No terceiro caixilho a contar de cima, da janela de guilhotina, pasta uma vaca intermitente, espero até que ela venha estilhaçar os vidros com seus cornos retorcidos.
Que dê uma marrada, nestes dias de chumbo, neste predomínio da ausência e a corrente de ar que vença este cheiro a mofo.
Olha a vaca insistentemente para o local onde me encontro, na pausa do pasto, enquanto bebo o leite fresco que escorre pelos contrafortes da montanha.
As vacas e os caramelos são castanhos, a única diferença é que a elas não é necessário desembrulhá-las. De resto tem muitas semelhanças, o seu olhar libidinoso e delambido, a sua natureza pegajosa.
Com o leite das vacas faz-se o queijo e o chocolate, tudo isso podia ser um surpreendente spa de aromas e sabores e de poesia, se não fossem os pobres e tudo o que é elementar, se estar a transformar em sonho nestes dias.
Lisboa, 29 de Outubro de 2013
Carlos Vieira
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