I
O ar
leve
da montanha
desce
sobre o vale
faz-se ali
um silêncio
pesado
a todo
o comprido.
II
A água
cristalina
nas galerias
nos segredos
de granito
desce
ao sopé
da montanha
trauteando
música
fresca e suave
transparente
de câmara.
III
A lava
abraça
a montanha
serpente
de fogo
as cinzas
estendem
depois
um tapete
para os deuses
passearem
sobre a terra
inóspita.
IV
A neve
cobre
a montanha
apaga
os caminhos
uma página
em branco
sem história
agora
ninguém sabe
para onde ir.
V
No cume
da montanha
o céu
espetado
derramando
um rio azul
de coragem
e sangue frio
pela encosta
sobem
anjos caídos.
VI
No glaciar
da montanha
o homem
reencontra
a justa medida
do seu gesto
contido
e a irreverência
de o saber
breve
a moldar
numa noite de neve
um sonho
eterno.
VII
As aves
da montanha
exuberantes
conhecem-lhe
os abismos
o limite
da grandeza
lapidando
asas de pedra
a inconstância
e a firmeza.
VIII
As cabras
da montanha
equilibram-se
entre um tufo de erva
e nuvens
no pensamento
e de cornos no ar
parecem
subestimar
o princípio da gravidade
e os precipícios.
Gstaad, 23 de Outubro de 2013
Carlos Vieira
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