quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A mão escorrega na fímbria do teu vestido

A mão escorrega na fímbria do teu vestido
 o sol pousado nos cornos de um touro
foste água fresca na ânfora
eu fui o vento que te despe na tarde   
escondes-te num puro lençol
subterrâneo
aí ao fundo do túnel
há um caminho de tâmaras
e de Mediterrâneo
ouve-se uma canção
de porcelana
onde podes voar o frágil silêncio
trazes a máscara da idade do bronze e do sal
correm ali as desvairadas lágrimas
lâminas espetadas
no avesso trágico das memórias
pelos teus olhos perpassa o gume das sombras
de leopardo
e nos desgrenhados momentos de luz
dos suspiros
nos teus lábios pressinto
despertar uma sede de papiros
nas entranhas o apelo do caos
neste início da fome
e das trevas
da época moderna
arde olímpico
o  desafio do teu rosto
que consome
meu único vestígio de chama eterna

Lisboa, 12 de Outubro de 2011

Carlos Vieira

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