Recordo-me de uma luz tímida trémula
naquele suspenso jardim de inverno
e da sobrevivência de um vulto
antes de um fogacho
que foi uma flor pretensiosa e intrépida
que se apagou no estampido
e desapareceu na selva o trote de um órix.
No vento revelou-se um inesperado incêndio
e a minha asma
que se sucedeu sucessivamente,
sem grande precisão
ainda sinto aquele perfume preliminar de horas mansas
uma impaciência da sala de estar
e a brisa da tarde onde sustive a respiração
perante a nua tranquilidade das ameixas roxas.
Podia adivinhar
naquela gente o sorriso cínico
depois soluços de âmbar.
Sobre uma mesa tenho a cristalina memória
da solitária dissidência de um jarro de água
e do seu olho vítreo a observar-nos
sobre um naperon de linho
no início da sede e do pesar.
A essa hora
ainda havia luz no jardim, suspensa
que se ia finando também
afinal talvez uma réstia
da rapariga trémula e tímida
disseram-me que louca
e agora, de facto, mortas
- tenho aquela imagem
de um final -
ela e a pistola mais à frente,
sobre o resto
gostaria de não me pronunciar.
Lisboa, 20 de Fevereiro de 2012
Aguarela pintada por Vassia Alaykova
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