I
Nó
flor de cordel
de onde se desprende
a voz
felina
feroz
por dentro da pele
e da raiz dos pulsos
cicatriz
de novo aberta
de novo alerta
neste papel
de nós
II
nó
palavra
que penso
que presa
na garganta
fica só
e pensam
que posta a pão e água
ficarás à solta
que darás a volta
e deixarás de ser
palavra
e de ser
nó
III
nó
a nó
se desfaz
o longe
e o perto
e a sua paz
dão-te mais corda
dando-te o deserto
dão um ponto
sem nó
apertam agora
de mão firme
muito seguros
de si mesmo
não o irão largar
vão escovar-lhe
o ego
e de olhos bem abertos
ficará à sua espera
o nó cego
IV
Nó
é um silêncio
que se desata no teu rosto
que se desenrola
no teu gesto sereno
é o laço
feito dessa fibra apaixonada
de um abraço
que tece estrelas
na noite do teu regaço
e desce outra vez pela corda
à tua gruta perfumada
à minha sede
e desprendida
voltas a voar
sem rede
sem balanço
sem nós
num baloiço
cabisbaixo
neste jardim
que deixou de ser
de nós
Lisboa, 2 de Fevereiro de 2012
Carlos Vieira
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