hoje muita gente
saíu à rua
no país
e houve muita
que ficou em casa
fora os que ficaram
à porta e à janela
aqueles
que não tem casa
podem estar melhor
que aqueles
que não tem rua
e tem país
todos de endereço
desconhecido
recordo aqui
aqueles
a que foi impossível
ir à rua
e outros que nem sair à rua
puderam
todos de castigo
depois existem
os que tem uma rua
de liberdade a crescer
dentro de si
uma festa
onde todos vão passear
felizes
os que vivem
à sombra da liberdade
da sua gente
de uma casa
de uma rua
de um país
infelizes
os que tendo uma casa
por o mundo terminar ali
ignoram a liberdade
e os que possuindo ruas
não tem casa
quero
vos confessar
vos confessar
que não saí à rua
fiquei em casa
de braço dado
com a liberdade
sem reservas
aplaudo
desde aqui
os que livremente
sem preconceito
puderam sair à rua
e os que não puderam
sair de casa e os outros
que podendo
o não quiseram fazer
todos símbolos
de liberdade
hoje
nem todos
porém
puderam viver
essa liberdade
ou se libertaram
das prisões
que crescem
dentro e fora de si
de nós
neste tempo
e neste dia
vivo esse lamento
de estarmos hoje
mais longe de nós
desse dia
"inicial inteiro e limpo"
de um país
Lisboa, 25 de Abril de 2014
Carlos Vieira