A madrugada
de “berlindes” nos bolsos
em Outubro
de pedaços de arrabalde
e telhados
de vidro embaciado
na cabeça
a espiral do pião
que irrompia no nevoeiro
e do tinteiro
em tinta permanente
e não tinha medo
de ninguém.
O mata-borrão
a estancar
furtiva lágrima
suave
sobre o pastel
de cores de aldeias
a espreitar
os ninhos
tecidos a tinta da china
que um homem
não chora.
Na memória da horta
permanece
o focinho álacre
branco sujo
de um porco-espinho
que tinha medo
da sua própria
sombra.
Oiço os aparos
e a incerteza
dos lápis de carvão
a arranhar
a grandiosa solidão
da raíz quadrada
a convocar
o conhecimento.
Enquanto
tirava dos bolsos
as mãos
escondeu-se
o porco espinho
levantou-se
o nevoeiro
e a sépia do bosque
da infância
e dos selos do correio
foi num abrir e fechar
de olhos.
O giz
a iluminar a ardósia
a escrita carregada
de um país
a 6 de Outubro
um poema
a preto e branco
sem dinheiro
na altura
fazia as contas em pé
não tinha medo de ninguém
nos bolsos
tinha um abafador.
Lisboa, 6 de Outubro de 2013
Carlos Vieira