Tudo empalidece nas minhas mãos
Tocado de frio em mim tudo estremece
E definha na penumbra sua etérea beleza
Se vivo em cada vocábulo um esplendor
Ou por um dia a mais perseguida utopia
Precede-me uma tristeza húmida e indolor
De perder o mundo em estéril melancolia.
A órbita ruidosa de constelações de gente
Em mim reclamam se me afasto no deserto
Se posso ser o rio que acende as palavras
Em sonhos de astros e aldeias esquecidas
Transplantados no poema de coração aberto
Logo soçobram nas águas paradas da razão.
Não sei de onde me vêm esta tão sôfrega pulsão
De para dentro de mim trazer todo o universo
De tudo possuir numa gaiola de palavras
De capturar o momento único e feliz num verso
Na luz que entardece nas cidades a natureza
Presunçosa fé de ter poder de torná-lo eterno.
Lisboa, 3 de Outubro de 2012
Carlos Vieira