Aqui estou junto do poço
nada procuro
nem a morte
nem o amor
nem a infância
bastava-me
aquela recordação de urtigas
e de hortelã
fustigada pelo rumor dos insetos
Encostado ao pequeno muro
De tijolo
que da minha eternidade me separa
vou descendo
até ao mais profundo reflexo de mim
na superfície da água
para nada
nem sei para quê
não sei como cheguei aqui
ao poço deste tempo
e porque puxo na roldana
mais um balde de água fria.
No entanto
na concha da minha mão
os pássaros podem vir beber
o cântico flamejante dos peixes
a sombra cristalina da árvore
que surpreendida estremece
do meu súbito mergulho
num júbilo de tangerinas
duvido se tudo isto servirá
para coisa alguma
nem toda a gente gosta
do perfume das cascas.
Lisboa, 7 de Janeiro de 2013
Carlos Vieira
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