O artifíce
da palavra
ausculta
um desconhecido
sentido interior
murmura
consigo próprio
o desconforto
da viagem
cuida
da imperceptível
ternura
que percorre o ar
que as liga
as palavras escolhidas
e as que renova
e nas suas sílabas
vai crescendo
em fogo lento
a raíz
do canto
de um pássaro
que se tornou
a árvore
e a sua sombra
e adquirem o ritmo
da chuva caíu
na boca sequiosa
e naquela expressão
seca
nasce o rio
que corre
mais do que o grito
por um novo leito
e a partir
das suas margens
vai inaugurar-se
o crepúsculo do diálogo
onde os peixes
são versos soltos
que roubaram
a luz das estrelas
e agora o poema
está coberto de escamas
tornou-se armadura
de um poeta guerreiro
que voltou da batalha
da busca lapidar
da essência das palavras
e do silêncio
ao recolhimento
que o faz regressar
à descoberta
de um outro tempo
a reclamar um valor novo
para a vida
dos que não tem
não sabem
ou não querem
a palavra.
Lisboa, 9 de Novembro de 2014
Carlos Vieira