segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Sonata com ramos de oliveira e espuma
- Sou um homem do campo!
Digo para mim mesmo,
enquanto o meu olhar
se acalma
abandonado
na dolência das oliveiras
que descem pela colina
da tua ausência.
A seguir
penso na veemência branca
dos teus dentes
nas azeitonas
e na turbulência
da luz do candeiro.
A minha perplexidade
é a espaços um fio de azeite
essa paixão que se espalha
e se insinua
no teu corpo inquieto
depois
há vagas de um mar encrespado
desse vai e vêm
de que recordo o sal
na nossa pele
na subtileza que dele persiste
e invade a tua alma
seminua
e inconstante
tantas e tantas vezes
de uma suave
luminosidade
ou tão admiravelmente triste.
- Tu uma mulher do mar!
Lisboa, 25 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
Paisagem com oliveiras de Van Gogh
Kairós
Esperamos a hora
em que possa convergir
na voz
que nos interpela
na indiferença,
no tampo da mesa
por onde resvala a mão
agora acidental,
nas palavras
que se aglomeram
numa frase de circunstância,
nos olhares
que se cruzam
nos corredores,
por não terem
para onde fugir,
esperamos
uma gélida aspereza
que nos desperte
para o confronto
com a dor que adivinhamos
esculpida
naqueles que nos cercam,
e nos decifre o significado,
o território da tristeza
e nos arranque
do pântano da morte lenta
onde nos debatemos,
neste tempo de tédio
onde chegámos,
depois que fomos abandonando
quase tudo
em que mais ou menos
acreditámos,
e aflore em nós
uma nova perturbação
que nos convoque
para fazer
da voz, da mesa, das palavras
e do olhar,
outro gesto de destemor,
de voltar
à ternura
em que nos conhecemos
e possamos deixar de viver
orgulhosamente sós
na clausura do desamor
por dentro da pele
delicada
de cada momento.
Lisboa, 25 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
sábado, 23 de agosto de 2014
Pedra, papel ou tesoura
“- Pedra, papel ou tesoura!”
Tento decifrar nos teus lábios
o desafio estremunhado
da madrugada
olho-te
como se não houvesse amanhã
e a vida de dias difíceis
estivesse dependente
do amável passatempo
dos teus dedos
Lisboa, 23 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
Poema para peixes de água-doce
hoje
fui junto do salgueiro
e preguei aos peixes
que se acotovelavam
naquele braço de rio
como se fossem palavras
na urgência
de um poema
depois
fomo-nos todos embora
de barbatanas e mãos
a abanar
Lisboa, 22 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
nestes últimos dias...
neste último dias tenho
andado às voltas
com as pedras e os pássaros
que tem apenas de comum o voo
o ninho da poesia
e uma culpa de infância
que carrego
Lisboa, 22 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
A propósito do teu sorriso
Na tua mão a pedra
era uma ave pronta para partir
agora a ave
é mão pousada
da mãe
sobre a pedra levantada
que grita
a tua eternidade
e faz perdurar nos teu lábios
o esfíngico sorriso
que venceu a morte
e que agora ela aviva
semanalmente
naquela foto a preto e branco
tenho a leve a impressão
que lhe parece ouvir
um rumor
o sopro
da ave da imortalidade
que a ela a faz renascer.
Lisboa, 22 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Uma pedra...
uma pedra
sobrevoa o lago
o teu coração
um pássaro de fogo
o canto extinto
de um vulcão
Lisboa, 21 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
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