De vez em quando
volto àquele jardim
não só pelas flores
mas regresso a mim
como se os odores
me fizessem pensar
a essência de outros
que as minhas dores
são os seus espinhos
e que pétalas caídas
são lágrimas e rastos
espanto dessas vidas
e quando as corolas
desabrocham revelam
segredos inconfessáveis
ou até imploram esmolas
a abelha anda em redor
a procurar o doce mel
e prova o sabor do fel
enfim se penso voltar
ao último abrigo da alma
sou jardineiro enredado
na teia do meu coração
pobres são as plantas
que no melhor de mim
procuram sustentar-se
sendo que é função
de cada um de nós
também ser para vós
sombras e perfumes
e arbustos de jardim.
Lisboa, 30 de Março de 2014
Carlos Vieira