quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O coração que nunca mais cresce



Desespera
de ser tão desastrado
nestas coisas do coração,
nas dos pulmões nem por isso
já são dez anos sem fumar.
De qualquer forma,
é indiferente.
Se o deixasses respirar,
se o coração lhe voltasse
a obedecer,
se só de olhar-te
deixasse de tremer,
se não te mandasse
passear,
por estar farto 
de te aturar,
se fosse
tudo ao contrário,
já não eras tu
nem era ele.

Lisboa, 30 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira


CON LA LLUVIA NO PENETRAN OTRAS AGUAS


Yo amaría a esa mujer que deambula
por un desierto de noches heladas
mientras le llegan los rumores de algún puerto
pero no rompen ellos su silencio
ni suavizan los surcos
que el dolor trazó en su cara
La amaría porque no se doblega
porque con la lluvia no penetran otras aguas
porque su cuerpo se abre ahí
donde a la primavera no le alcanza

Martha Carolina Dávila

O Medo...

O medo caminha de cabeça erguida neste planeta. o medo quer, pode e manda, próspero e eminente. O medo tem-nos a todos presos por um fio aqui em baixo. É verdade, meu caro. Filha, não te faças de desentendida... Um dia destes vou fazer frente ao medo.Vou fazer-lhe frente. Alguém tem de o fazer. Vou enfrenta-lo e dizer: Muito bem, cabrão, já chega. Já nos andas a dar ordens há tempo de mais. Eis alguém que não te quer aturar mais. Acabou-se. Fora!


Martin Amis

You are so brave


Ernest Hemingway

Dentro da pedra


Cedo ao rastro de restos que
me tenta até ti
(pernas de nylon vazias
sapatos
desafogados)
metades desirmanadas que
arrumo no poema. Posso
disturbar
o teu espaço? Entrar e ficar a ver?
Estás
sob a linha d'água
(gume
que fere o mamilo)
como um escultor pergunto
com a precisão de poros 
pela 
mulher dentro da pedra.
Desenrolas da torneira o 
novelo que te veste
(o
corpo em repouso contem
a soma dos movimentos)
lavo-te
até ao teu cheiro até
respirar de ti
o
perfume verdadeiro.



João Luís Barreto Guimarães
Rés-do-Chão
Gótica
2003

sejas fogo...

sejas fogo
imortal

talvez um dia
sejas luz
total

talvez
um dia tropeces na verdade
já moribunda


José António Franco

Estou por dentro do lado de fora do amor


Murmuro
o teu nome
tiro os sapatos
não te quero acordar
talvez nem vás responder
devagar quero ser dos sonhos
onde me pedes para te defender
no entanto fico aqui do lado da insónia
do teu sono agitado e de tocar os teus lábios
ao de leve deste lado do amor atento
onde não me podes ver.

Lisboa, 30 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira