Nua, pura e dura
Nua
sem tecidos
sem palavras
apenas
a discrição
do olhar
desagua
um desalinho
de rumos
de cabelos
e de algas
um gesto justo
por todos
os poros
o mais puro
sentimento
um castelo
de areia.
Nua
no dorso dourado
do areal
talvez durma
se esconda
na espuma
talvez
entre as ondas
e os gritos
das gaivotas
se esconda
e se livre
ou desafie
a morte.
Nua
tão quieta
tão crua
em silêncio
sangra
no horizonte
nuvem caída
em zona
de rebentação
tão altiva
e tão em perigo
de vida.
Nua
corpo
fogo aceso
árvore de luz
pássaro atento
da manhã
último limite
das forças
delta
de saber
e sal-gema
esplendor
da carne
na margem da pele
tatuada
de alegria.
Lisboa, 9 de Outubro de 2013
Carlos Vieira
Pintura de Juan Miró