sábado, 14 de julho de 2012
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Intercomunicabilidade
abre-se um pôr do sol
nas extensas asas da cegonha
depois fica ali depenicá-lo
no intervalo o murmúrio
das chamadas de longa distância
germinam cegonhas e flores acesas
nos campos de arroz as cegonhas
cruzam-se fios de conversa
e o triplo salto das rãs em fuga
a cegonha dorme seu sono solto
sustendo-se numa pata
sua consciência tranquila na outra
a cegonha humilde e de pé
pelo buraco da branca chaminé
espreita a fome negra
ás 17h30 o matraquear das cegonhas
algures num país desenvolvido
o homem morre na cadeira eléctrica
a cegonha leva no bico comprido
as linhas curvas do rio e um peixe
é um grito entalado na garganta
a cegonha tem o comboio no bico
no poste do telefone em equilíbrio instável
o horizonte é sempre inconsolável
o coração vivia nas trevas
a límpida cegonha e o relógio da igreja
era sua a clarividência da cal
o ninho redondo e amável
um incêndio e no curto circuito de verão
as três cegonhas atónitas
Lisboa 13 de Julho de 2012
Carlos Vieira
Foto in Photoblog600
terça-feira, 10 de julho de 2012
Pequena história de um Reino cercado pelo nevoeiro e de um cavalo branco
Da névoa se libertou o cavalo
branco, desferiu coices de espanto na romântica paisagem,
cuspiu da garupa o príncipe, a
donzela, a aia, acorreu a soldadesca e toda a criadagem,
ali estava caído por terra o
futuro do Reino, arrastou-se a real família pela fria realidade
da lama.
Não foi um golpe de Estado, foi
apenas um acidente, felizmente sem consequências, mas
naquele dia, no palácio foi o assunto do dia, foi até emanado
um clarividente decreto que
proclamava que nas próximas montarias, não se
iria mais arriscar, em tempo de bruma com o
tão irrascível cavalo branco, não se poderia ser tão temerário com a
rédea que se lhe dava.
Constatou-se no entanto, após aquela
queda, que o príncipe passou a saber o que era tomar
banho, a princesa já deixou de
ressonar e os criados recuperaram a fala, subiu o grau de
prontidão dos militares.
Nos jardins do palácio pode agora
passear o cavalo branco, beber de um trago toda a água do
lago, trás uma rosa atrás da
orelha, olha-se ao espelho, salta os obstáculos da realeza para
realidade e vice-versa, foi
nomeado herói nacional pelo relevante serviço prestado à Nação,
podendo a partir de agora, usufruir o direito vitalício a usar o freio
nos dentes.
Lisboa, 10 de Julho de 2012
Carlos Vieira
“Hedgehog
in the fog” por Yuriy Norshteyn
Pau de fósforo
pau de fósforo
mínima parcela do pinhal
que acenou seu verde gesto
sobre o horizonte azul-cobalto
onde se festeja a melancolia do sal
de que o vento pouco a pouco se despediu
e escondeu o ninho e sustentou o primeiro voo
sucumbiu na queda da árvore e viu à luz fluorescente
da fábrica erguer-se a lâmina que cerce lhe desenhou seu
futuro
e moldou a vermelha substância que um dia se acendeu em flor
efémera
depois do desesperado cigarro foi o sopro e a pirueta pelos
ares impulsionado
última memória antes da vida espezinhada e agora subitamente
uma piedosa mão
lhe deu o destino de travar a janela permitindo à brisa fresca
reconhecer naquele corpo
o perfume do pinho verde e a resina que de si brota ténue rastilho
que a enlouquece apenas
de espreitar as sombras que se apagam na placidez do parque
atormentando a carne do Verão
Lisboa, 9 de Julho de 2012
Carlos Vieira
domingo, 8 de julho de 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)