sábado, 2 de abril de 2016

Falsificação grosseira de um sonho de Van Gogh


Sonho
este sabor acre
e o tom ocre
no silêncio caiado
o serpenteado
das ruas
de casas térreas
e a tinta lascada
das portadas
os olhares crus
emboscadas
nas cortinas
de tule
gosto do zumbir
de insectos
e de o burro
a zurrar
a inquietar a tarde
nessa altura
será perfeito
se houver um corvo
ou o adeus de ouro
de um campo de trigo
entre o cobalto azul
e o véu da nuvem
sonharei
no meu pastel
de pigmentos
de girassol
o retoque final
em que de pé
tocarei o céu
alguém mais atrevido
poderá comentar
que me caiu
uma estrela
na paleta.
Lisboa, 2 de Abril de 2016
Carlos Vieira

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