No início da sede
ouve o veredito do teu corpo
que escorre
por dentro de si
a memória do chuveiro
a inundar uma manhã
de água cristalina
e de nevoeiro
tu outra vez
um desconhecido país
onde irrompe
a paisagem
à flor da tua pele
estandarte do teu torso nu
sinuoso e inteiro
das tuas mãos brancas
delicadas
a ensaboar a imaginação
que consome
o seu corpo verdadeiro
percorres
os lugares recônditos
onde enlouquece
o coração enclausurado
descreve-te
de olhos fechados
acredita em ti e não te vê
o teu perfume
envolvente
os teus lábios suspensos
flores frementes
a sua pele húmida
destilando
a suave alquimia do despertar
a volúpia
das tempestades
a demência do prazer
o gesto mais limpo
na hora do banho
em que procuravas felina
a palavra mais pura
a lâmina mordendo a carne
depois das águas tranquilas
a vertigem
de um pensamento subterrâneo
o segredo que te possui
no esmalte da louça
onde deixaste a toalha
caída do abismo
dos teus ombros
onde iam pousar libertinas
as aves que o inebriam
sobrevive ao ritmo
da tua desnuda
existência
ficou cego
de tanto olhar o sol.
Lisboa, 17 de Abril de 2013
Carlos Vieira
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