domingo, 28 de agosto de 2016
Georges Simenon, excerto do livro "Carta Para Minha Mãe"
«Quantos [homens] houve desde a pré-história? Ninguém sabe. O que se pode supor é que, tal como acontece agora, se bateram uns contra os outros, se mataram uns aos outros, que devem ter lutado contra os vizinhos, os grandes cataclismos cósmicos e as epidemias.
No entanto, todos, mais ou menos, pensaram o seguinte:
- O que é o homem? Quem é o meu vizinho?
Hoje em dia, a etnografia anda à procura dos vestígios desses homens de antigamente, que são, afinal, os nossos avós; nos laboratórios do mundo inteiro a biologia tenta conhecer o homem actual.
No entanto, não conhecemos as pessoas que vivem na porta ao lado, as pessoas com quem nos cruzamos diariamente na rua, com quem trabalhamos lado a lado.»
No entanto, todos, mais ou menos, pensaram o seguinte:
- O que é o homem? Quem é o meu vizinho?
Hoje em dia, a etnografia anda à procura dos vestígios desses homens de antigamente, que são, afinal, os nossos avós; nos laboratórios do mundo inteiro a biologia tenta conhecer o homem actual.
No entanto, não conhecemos as pessoas que vivem na porta ao lado, as pessoas com quem nos cruzamos diariamente na rua, com quem trabalhamos lado a lado.»
sábado, 27 de agosto de 2016
A indiferença e o amar dos tímidos
Volta à escrita como a criança
dá-lhe a mão a cada palavra
é uma oração que te revela
ponte suspensa na respiração
de passagem de uma vida
vegetando na tua margem
corrente que te leva e traz
uma espécie íntima de música
na penumbra de secreta solidão
descansa sob a abóbada da paz
cercada do eco das tuas palavras
enquanto as suas amordaçadas
são apenas olhares gumes
abrindo feridas no muro da espera
e o seu silêncio é cálice de veneno
reservado à sua morte diária
ou à alma cruel da sua dissidência.
dá-lhe a mão a cada palavra
é uma oração que te revela
ponte suspensa na respiração
de passagem de uma vida
vegetando na tua margem
corrente que te leva e traz
uma espécie íntima de música
na penumbra de secreta solidão
descansa sob a abóbada da paz
cercada do eco das tuas palavras
enquanto as suas amordaçadas
são apenas olhares gumes
abrindo feridas no muro da espera
e o seu silêncio é cálice de veneno
reservado à sua morte diária
ou à alma cruel da sua dissidência.
"O cinema é isto: sombras e luzes e seres humanos aflitos no meio" João Botelho
"O mundo foi destruído em nome do entretenimento e de uma imagem pessoal do meu e do meu e do meu. As pessoas não querem ver as obras: querem ver-se ao pé das obras."
http://www.dn.pt/portugal/entrevista/interior/o-cinema-e-isto-sombras-e-luzes-e-seres-humanos-aflitos-no-meio-5336613.html
"Caminha sem descanso pela cidade de Lisboa mas também em todos os sítios por onde trabalha. Não é uma coincidência: parte hoje para um périplo asiático, preparando a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto" DN
http://www.dn.pt/portugal/entrevista/interior/o-cinema-e-isto-sombras-e-luzes-e-seres-humanos-aflitos-no-meio-5336613.html
"Caminha sem descanso pela cidade de Lisboa mas também em todos os sítios por onde trabalha. Não é uma coincidência: parte hoje para um périplo asiático, preparando a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto" DN
País de fogo e cinzas
Hoje
o fogo
devora
a substância
vegetal
no coração
de um tempo
ancestral
que é também
nosso
amanhã
toda
uma vida
caberá
na sua mão
que é nossa
amanhã
vamos
de olhar
embargado
erguermo-nos
das cinzas
para reacender
o sonho
e esquecer
a raiva
a dor
que nos tolhe
e seremos
apenas
o ardor
do futuro.
o fogo
devora
a substância
vegetal
no coração
de um tempo
ancestral
que é também
nosso
amanhã
toda
uma vida
caberá
na sua mão
que é nossa
amanhã
vamos
de olhar
embargado
erguermo-nos
das cinzas
para reacender
o sonho
e esquecer
a raiva
a dor
que nos tolhe
e seremos
apenas
o ardor
do futuro.
Fragmentos de uma cadeira de balouço
No baú da memória
e do futuro
revejo-te sentada
no velho cadeirão de cerejeira
fustigada de reflexos
a tua nudez iluminada
debaixo do castanheiro
só tu podes pressentir
a navegação
dos ouriços dourados
no ribeiro
e o peso do silêncio
na sinfonia
que compões
que tens de ouvido
que te sopra a brisa
acrescentas-lhe
o resfolegar
no canavial
do amor escondido
um frémito antigo
de medo animal
vais pelo que te resta
da memória abaixo
num serpenteado gorgolejar
em gargalhadas e festa
de águas e de sentidos
a preencherem
as aceradas reentrâncias
de desejo
uma volúpia
de seixos e de espinhos
sobreposto
pode ouvir-se
o ritmo sincopado
do balouçar da cadeira
tão desconjuntada
na intermitência
da ternura
e na já distante
subtileza
de um murmúrio
as falas de amar
acompanhadas
de surpreendentes gestos
tão sublimados
de trevas
e de violência
numa rasgada urgência
amortalhados
em almofadas
e tardes de bordados
na frescura dos lençóis
pode ouvir-se ainda
o canto solícito
um festivo pestanejar
e o rumor do teu corpo
em guerra com o inacessível
a que se seguia
o esgar
e o irromper em voo de um grito
de um pássaro atónito
de prazer
perante o dardejar ao sol
e à chuva
a inclemência de um amor
destemperado.
e do futuro
revejo-te sentada
no velho cadeirão de cerejeira
fustigada de reflexos
a tua nudez iluminada
debaixo do castanheiro
só tu podes pressentir
a navegação
dos ouriços dourados
no ribeiro
e o peso do silêncio
na sinfonia
que compões
que tens de ouvido
que te sopra a brisa
acrescentas-lhe
o resfolegar
no canavial
do amor escondido
um frémito antigo
de medo animal
vais pelo que te resta
da memória abaixo
num serpenteado gorgolejar
em gargalhadas e festa
de águas e de sentidos
a preencherem
as aceradas reentrâncias
de desejo
uma volúpia
de seixos e de espinhos
sobreposto
pode ouvir-se
o ritmo sincopado
do balouçar da cadeira
tão desconjuntada
na intermitência
da ternura
e na já distante
subtileza
de um murmúrio
as falas de amar
acompanhadas
de surpreendentes gestos
tão sublimados
de trevas
e de violência
numa rasgada urgência
amortalhados
em almofadas
e tardes de bordados
na frescura dos lençóis
pode ouvir-se ainda
o canto solícito
um festivo pestanejar
e o rumor do teu corpo
em guerra com o inacessível
a que se seguia
o esgar
e o irromper em voo de um grito
de um pássaro atónito
de prazer
perante o dardejar ao sol
e à chuva
a inclemência de um amor
destemperado.
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