sábado, 17 de janeiro de 2015
O túnel do silêncio
Saí do túnel do Grilo
e reentrei no do nevoeiro
sou este estranho hábito
inabalável vontade
ou mera circunstância
atração em viajar
pelo labirintos
do silêncio
Lisboa, 13 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
"Uma luz ao fundo do túnel"
Foto de autor desconhecido
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Em xeque
No xadrez
de luzes
do prédio em frente
o que mais me atrai
é o mistério das casa pretas
gosto das estratégias demoradas
de tempêros na cozinha
temo pelas auréolas
tremeluzentes
dos plasmas
pelo embrutecimento
antecipam a paisagem
da morte retangular
quase toda a gente
faz amor
às escuras
às apalpadelas
as crianças brincam
em módulo wireless
os adolescentes zombies
dormem de dia
e desconhece-se
o que fazem à noite
temo que seja magia negra
ali sobre o lado de direito
a casa sempre iluminada
vive uma mãe solteira
ou talvez casada com emigrante
é uma peça que vive na angústia
de viver neste jogo da vida
sem qualquer truque
sempre ameaçada
personagem desgraçada
depois existem três gatos
cinzentos
todos iguais
com os mesmos hábitos
de marqueses
de marquises
o sol nasce para eles
de sete vidas
vivem desafogados
não pedem nada
finalmente um pássaro
de voo exíguo
todo o dia de baloiço
em baloiço
até ao limite do absurdo
no xadrez do prédio em frente
vão-se apagando luzes
ninguém sabe
objectivamente
o que está em jogo
e quem está em xeque.
Lisboa, 11 de Janeiro de 2015
Carlos Vieira
sábado, 10 de janeiro de 2015
Pela estrada fora
Uma gota de orvalho
na vertical
desce pelo pára-brisas
a rola eleva-se
acima da cupúla
do pinheiro
e é devorada
pela neblina
um automobilista
carrega no acelerador
a fundo
ébrio de não ter meta
nem rumo
em excesso de velocidade
encontra um desvio
para o mundo
segue em linha recta
herói e mártir
da overdose do vazio
do detalhe
que faz a diferença
e se esfuma
na paisagem
dos lugares comuns.
na vertical
desce pelo pára-brisas
a rola eleva-se
acima da cupúla
do pinheiro
e é devorada
pela neblina
um automobilista
carrega no acelerador
a fundo
ébrio de não ter meta
nem rumo
em excesso de velocidade
encontra um desvio
para o mundo
segue em linha recta
herói e mártir
da overdose do vazio
do detalhe
que faz a diferença
e se esfuma
na paisagem
dos lugares comuns.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Poema quase extinto
Aqui se vai apagando
a chama neste canto
de mim mesmo
onde me consumo
ninguém me chama
distraído do mundo
deixo passar a vida
e a minha vez
tenho de voltar
a tirar a senha
de ter a esperança
que nos legaram
os que agora
partem.
Lisboa, 7 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
“Departure” Paul Bond Fine Art
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
O jovem monge...
O jovem monge
ouve o crepitar das folhas
sabe os passos do mestre
na alameda
nos seus dedos inquietos
recupera as palavras
caídas
interliga as letras
em flor
e as memórias
afastam-se com o mestre
que sublinha a distância
para que o jovem monge
entenda o espaço
e nos gestos reconheça
o silêncio e a dança
acompanhada
pela melodia
de um rio interior.
Lisboa, 6 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
Modelo de Vermeer
Amarelo torrado
o cascol
enrolado ao pescoço
de porcelana
um casaco azul turquesa
até a meio das coxas
uma subtil alteza
de mulher do país do norte
pela firmeza
sobretudo pelo desdém
ao olhar e ao frio
uma camisola macia
no interior
de verde esmeralda
um corar ao de leve
a coroar
um metro e oitenta
um oportuno carrapito
de bailarina loira
tudo o resto era pura
ausência
suas mão brancas
de loiça holandesa
aquecem-se
à volta da chávena
de café
bem quente
a fumegar
acrescenta-lhe
um toque subliminar
uma etérea
inexistência
um eco de Vermeer
que vence o cinzento
o perfume matinal
um poema
que desperta
ao pequeno almoço
tudo o resto
é o sonho
do teu corpo nu
latino e inteiro.
o cascol
enrolado ao pescoço
de porcelana
um casaco azul turquesa
até a meio das coxas
uma subtil alteza
de mulher do país do norte
pela firmeza
sobretudo pelo desdém
ao olhar e ao frio
uma camisola macia
no interior
de verde esmeralda
um corar ao de leve
a coroar
um metro e oitenta
um oportuno carrapito
de bailarina loira
tudo o resto era pura
ausência
suas mão brancas
de loiça holandesa
aquecem-se
à volta da chávena
de café
bem quente
a fumegar
acrescenta-lhe
um toque subliminar
uma etérea
inexistência
um eco de Vermeer
que vence o cinzento
o perfume matinal
um poema
que desperta
ao pequeno almoço
tudo o resto
é o sonho
do teu corpo nu
latino e inteiro.
Lisboa, 6 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
Carlos Vieira
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