Incidente
sábado, 16 de agosto de 2014
Amo a névoa...
Amo a névoa que se despenha
sobre as imagens do passado
tanto como repudio
esses momentos
onde me encontro
com tantas memórias
que nos fazem perder
no significado
dos detalhes
Lisboa, 15 de Julho de 2014
Carlos Vieira
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Fragmentos de memórias
Toda a manhã
aguardou a visita
da palavra
que iluminasse
o objecto
onde pudesse
descobrir
o esplendor
residual
que as cristas
papilares
das suas mãos
implantaram
e assim
não seria difícil
reinventar
o seu perfume
no molde
daquele corpo
triste
que ainda
persiste
nos lençóis
imaculados
da memória.
Lisboa, 15 de Agisto de 2014
Carlos Vieira
Pintura de Claude Le Boul
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Lenda de um amor quase possível
O amor
era num castelo
e tinha duas torres verdes
como eram os seus anos
e os seus olhos
de dúvida e amor puro
D. Fuas tinha ido à caça
e eles beberam
a água da fonte dos desejos
saciaram-se
num primeiro beijo
depois
foi o milagre do amor
que se desvaneceu
o poço que secou
e com ele tantos desejos
o caçador furtivo foi salvo
com seu cavalo
no Sítio da Nazaré
ali aconteceu o espetáculo
da vida e morte
onde tudo os separou
e eles sem saberem
um do outro
surfaram
em precário equilíbrio
a grande onda
que um dia
os havia de cuspir
sem amor e sem vida
na grande terra firme
da solidão.
Porto de Mós, 11 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Nota Crespuscular
lá fora
confirma-se
o anunciado
aviso amarelo
no riso amarelo
do vento
cá por dentro
prolongado
rima profundo
o descontentamento
um simulacro ressequido
em cada esquina
alguém que partia
entre dentes o gemido
de um mundo
em escombros
na ruína
em fim de vida
ou apenas sombras
entediados espectros
de doutores
do desemprego
e que saem
do Mercado Sem Valoress
vergando os ombros
dos altos e baixos
no final de dia
Lisboa, 13 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Marulhar
Deito-me na praia
e não sei
se ouço
as ondas do mar
no clamor
das vozes
se no marulhar
das vagas
escuto palavras
embargadas
dos naufrágios
e das viagens
sem retorno
sobram as gaivotas
interrompem
o silêncio
e interceptam
o olhar
resta-nos
um vagar
de oiro
no sono
cálido de areia
um romper
de bruma
e um torpor
de espuma
Nazaré, 11 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
Todo o fim de tarde três andorinhas
Todo o fim de tarde três andorinhas
fizeram tangentes na piscina
por breves instantes ficou mais límpido
o azul do espelho de água
e o seu olhar deixou de ser a nuvem
a sobrevoar o teu rosto.
Tojal, 11 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
Frutos da memória
Emboscado na neblina de Verão
desta madrugada do Oeste
espreito tuas longas pernas
teus seios fartos
enquanto colhes
os figos pingo de mel
de uma figueira
que existiu
ao fundo do quintal.
Lisboa, 11 de Agosto de 2014
Carlos Vieira
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