Uma ambulância
esbaforida
e com os pirilampos acesos
sobe aos gritos
pela rua acima
transportam
uma dor calada
igualmente desesperada
os transeuntes
a cidade
está em convalescença
sofreu cirúrgica intervenção
ainda se encontra
aqui e ali esventrada
ligada à máquina
o país
esse prossegue
a sua lenta agonia
anémico
abúlico
entre o tratamento
inconsequente
e os efeitos secundários
inconsolável
perante tanta urgência
a sua gente
sem sossego
a precisar de alento
entrega-se
a essa generalizada
indiferença
a que chamam
morte lenta
destino
fado
eu assisto
a este melancólico
mercado dos sonhos
a preço controlado
à morte
ao retardador
a este imenso circo
prestigidatação
anestesia colectiva.
Lisboa, 4 de Junho de 2014
Carlos Vieira