quinta-feira, 1 de maio de 2014

Tomo-lhe o pulso...

tomo-lhe 
o frágil pulso
e nesse acto singelo
sinto bater 
selvagem coração 
não sei se o meu 
se o teu
e nem tenho o curso
de primeiros socorros

Lisboa, 1 de Maio de 2014
Carlos Vieira

Revelações



No fim
de quase tudo
ela disse-lhe
para a ajudar
a puxar
o fecho do vestido
e nesse gesto
ascendente
do crepúsculo
da pele
ficou atordoado
o seu olhar
encontrou-se
naquela curva
deslumbrante
do seu pescoço
ali mesmo
por debaixo
do seu cabelo
apanhado
o perfume
a invadir-lhe
as narinas
quase ia jurar
que se vão fechar
os olhos dela
e o fecho do vestido
vai rebentar
e deles irá eclodir
o desfecho
de um novo mundo.

Lisboa, 1 de Maio de 2014
Carlos Vieira



quarta-feira, 30 de abril de 2014

O sol redondo...


o sol redondo rebola
para o outro lado do mundo
ao fim da tarde 

Lisboa, 30 de Abril de 2014


Carlos Vieira

a árvore da espera



sento-me 
dias a fio
debaixo
da azinheira
voltado para o sul
para ver-te passar
eclipse que só eu
sei alcançar
e que mais tarde 
ou mais cedo
sei se vai desmoronar
o céu azul

a esta árvore 
secular
cerca-a 
um oceano
ondulante
de trigo dourado
como tu a mim
me rodeias
sou o náufrago
que para poder
respirar
pelo crepúsculo
em vão te espera

ao abandonar
este barco verde
habitado de pássaros
vou estar 
de novo perdido
serei um país 
à deriva
a essa realidade
sobrevive
o sonho
de voltar a amar-te
com a cumplicidade
das estrelas

Lisboa, 30 de Abril de 2014
Carlos Vieira

ao longe...

ao longe
no meio da planície
e do estio
ergue-se uma charrua
que desistiu
de esventrar a terra
agora entrega-se
ao beijar da brisa
ave quieta 
abandonada ao cio 
da eternidade

Lisboa, 30 de Abril de 2014
Carlos Vieira

segunda-feira, 28 de abril de 2014

problemas de graduação

ninguém
reparou na sua íris
apenas o oftalmologista
a conhece de cor e salteado
quem me dera poder espreitar
para dentro de si e assim perceber
afinal qual é o seu problema principal
ver-me só ao perto ou ver-me só ao longe?
poderei vê-la a olho nu e ela à vista desarmada?

Lisboa, 28 de Abril de 2014
Carlos Vieira


Foi apanhar o feno...

foi apanhar o feno
que cresceu
na margem da levada
desfaleceu
ninguém sabe se do sonho
que ceifava
se foi da imagem que bebeu
do seu amor
na água fresca que passava

Lisboa, 28 de Abril de 2014
Carlos Vieira