o dia promete, depois das insónias que começaram cedo, vêem aí chuva, urgência do dentista, de seguida urgência pediátrica com a mais pequena. ponho-me a adivinhar uma virose. é urgente o amor, descansar. superar as dores do corpo, do bater o dente, o bater do coração de ansiedade, da alma e do mundo, mudar de vida. é urgente ter tempo, e mais uma vez ter por inteiro a noite ou o dia.
são seis horas da tarde, estou a sair do Hospital dos Lusíadas, estou formado em urgências pediátricas, o meu prognóstico estava correcto, nunca estou curado disto, nada me põe mais aflito, do que todos os males e maleitas destas três miúdas. de qualquer forma tambêm não existem muitas outras que me ponham mais feliz, do que as traquinices e graçolas e pequenas vitórias diárias das mesmas.
moro nesta contiguidade que hei-de fazer. a escrita corre atrás das três irmãs e elas não lhe ligam nenhuma. é bem feito! pois de amar e da vida elas tem outra urgência, longe da nossa inclinação para o cerebral e sem as minhas insónias e presunçosas ironias. se queres ser poeta vive a vida! diriam elas, na sua forma desempoeirada e natural de rindo versejarem.
Lisboa, 26 de Abril de 2014
Carlos Vieira