domingo, 6 de abril de 2014

A borboleta...

a borboleta
em ziguezague
e contradição

bate asas
a leveza
dos princípios

distante tsunami 
no insecto
estremece

tudo tão efémero
é um frágil casulo
de ilusão

Lisboa, 5 de Abril de 2014


Carlos Vieira

sábado, 5 de abril de 2014

Rio e choro e canto...

Rio e choro
e canto
só de lembrar-me
do tempo
em que não dormias
e os meus lábios
pousavam
nas tuas pálpebras.

Lisboa, 5 de Abril de 2014


Carlos Vieira

A minha garganta...

a minha garganta
é a gaiola da tua ausência
onde ficam presos a ave e o canto

Lisboa, 5 de Março de 2014
Carlos Vieira

Vórtice



Um remoinho 
no açude
devorou o céu
as nuvens
e as aves
eu e os peixes
sobrevoamos
o espelho de água
e sobrevivemos
na falta de ar
ou no seu excesso
cá nos vamos
aguentando
entre o vórtice
e o caos
eu cá tenho a asma 
a acrescentar.

Lisboa, 5 de Março de 2014


Carlos Vieira

o eterno retorno



um pardal
à volta 
da migalha
uma réstia 
de sol
o frenesim
da tua memória 
à solta
que se espalha
e depois 
por fim
de novo te escolta
ao vazio
até esse lugar
onde em vão 
acreditei
poderia esperar
por ti
breve sombra
de pardal
a esvoaçar
numa réstia de sol

Lisboa, 5 de Março de 2014
Carlos Vieira




Sigo, eu sozinho...

Sigo, eu sozinho, ao cair da tarde, não existe um único automóvel, na fita de asfalto que á minha frente serpenteia. Sigo a uma velocidade moderada, de forma a que a planície alentejana me envolva. Não posso parar na auto-estrada, nem tenho o tempo que gostaría, para percorrer este extenso desabrochar e usufruir o intenso aroma da primavera luxuriante. Na rádio a acompanhar surge por acidente "return to forever" e eu deixo-me levar e, por pouco tempo, sinto-me na minha imensa irrelevância, o condutor de Van Gogh em Arles.
Ourique, 21 de Março de 2014
Carlos Vieira


Incidente de trânsito III



também na vida se deve olhar, de vez em quando, o espelho retrovisor, reparmos na gente, nas casas e nas cidades que deixámos para trás. e naquelas que nos seguem como se fossem bichos, poemas e imagens efémeras, por onde passámos que nos acompanham, de onde fugímos e a onde regressamos, de onde nunca saímos, pensando que partímos.

Lisboa, 5 de Março de 2014
Carlos Vieira