terça-feira, 25 de março de 2014

Descer à Terra...

Descer à Terra
para te salvar
de te encharcares
em barbitúricos
a partir 
da minha filosofia
de alcova
subimos de novo
aos céus
dos enganos
ledos e cegos.

Lisboa, 25 de Março de 2014


Carlos Vieira

segunda-feira, 24 de março de 2014

A dor que se avizinha



Na casa contígua
um casal
discute e insulta-se
entende-se
ciúme e a raiva surda
que perpassa
a noite intramuros
acusam-se
até que alguém chora
talvez os filhos
são efeitos colaterais
a ressoar
na minha insónia
no poema
paredes meias
sofremos 
expiamos nossos crimes
espiando 
a culpa dos outros.

Lisboa, 24 de Março de 2014
Carlos Vieira




O canto do galo



O canto de um galo
a estilhaçar a noite
com suas esporas
a rasgar o seu véu, 
quem dera que possa
um dia despertar
a tão esquecida
humanidade.

Lisboa, 24 de Março de 2014
Carlos Vieira

Tenho uma rola na chaminé




Tenho uma rola na chaminé
o sol chegou depois da chuva
uma brisa suave corre agora
a tarde vai deitando sombras
eu escrevo toda a banalidade
miséria não é aqui chamada
sobre a natureza um silêncio
se abate é o sono dos justos
que merda como poderia ser
mais eloquente o que escrevi
tivesse o sol chegado fulgurante
antes da chuva e do silêncio
ou da miséria e por inutilidade
me pudesse calar para sempre
e a rola me deixasse trabalhar.

Lisboa, 24 de Março de 2014

Carlos Vieira

falta d’ar



saio à rua
para apanhar ar
o gorjeio dos pássaros
o zumbir dos insectos
dão outro timbre 
aos meus pensamentos,
se fosse apenas 
por isso, esta minha
subversão!

Lisboa, 24 de Março de 2014
Carlos Vieira

domingo, 23 de março de 2014

Este cão rafeiro...

Este cão rafeiro
de vez em quando
aparece por aqui
despeja o poema e ali 
entre palavras em osso
o suor de ritmos perdidos
fareja restos de comida
parte depois para outras
paragem mais promissora.

Lisboa, 23 de Março de 2014
Carlos Vieira


Sinais sem tempo

Sublinho
os traços 
imperceptíveis
as palavras 
engolidas 
em seco
os gritos presos 
na garganta
o sorriso dúctil 
e efémero
a cor desgastada 
da tinta 
nos escombros
após a passagem 
do tempo 
e da intempérie
aquele esgar
de esforço inútil 
gosto 
de um fruto 
esquecido
de um amor
do qual não reza 
a história.

Lisboa, 23 de Março de 2014
Carlos Vieira